Pseudo-obstrução Intestinal em Crianças
A pseudo-obstrução intestinal pediátrica (PIPO em inglês) é uma condição na qual o intestino parece estar com uma obstrução mecânica, como se estivesse ocluído por um tumor ou uma torção intestinal, por exemplo. Entretanto, nesta doença, não existe um agente causando a oclusão no interior do intestino, sendo o quadro provocado por um distúrbio grave da motilidade intestinal.
A motilidade faz parte do processo de digestão, e sem uma contração adequada ou ordenada do trato gastrointestinal, os alimentos, secreções e até mesmo o gás produzido ficam parados dentro do intestino, dando a sensação de que o mesmo está bloqueado.
A pseudo-obstrução intestinal pediátrica pode ser congênita (presente ao nascimento), quando os nervos ou músculos (ou ocasionalmente ambos) no trato gastrointestinal não se formam adequadamente durante a gravidez, embora não se saiba a causa exata. Também pode ser secundária, desenvolvendo-se mais tarde na infância após um quadro infeccioso, por exemplo, que afeta os nervos e músculos. Estes nervos e músculos são fundamentais para que o intestino consiga se contrair de maneira eficiente.
Sinais e Sintomas da pseudo-obstrução intestinal pediátrica
Bebês recém-nascidos com suspeita de PIPO frequentemente apresentam distensão no abdome e vômitos, além de apresentarem dificuldade em evacuar. Lactentes e crianças podem ter dificuldade de alimentação, com vômitos e diarreia e/ou constipação. Às vezes, os sintomas desaparecem, mas podem ocorrer crises. Com o tempo, devido aos problemas de alimentação e à falta de nutrição absorvida, a criança pode não ganhar peso ou crescer como esperado, com possibilidade de desnutrição grave quando não tratado adequadamente.
Ocasionalmente, a PIPO pode ser suspeitada após um ultrassom pré-natal, mostrando alças intestinais aumentadas ou uma bexiga grande. Na infância, alguns dos testes utilizados para o diagnóstico são:
Tratamento e Reabilitação intestinal na pseudo-obstrução
O principal objetivo do tratamento é fornecer nutrição adequada à criança e minimizar o dano intestinal. A maioria das crianças consegue se alimentar por via oral, mas pode necessitar de suplementos para atender às suas necessidades nutricionais.
Em casos extremos, onde a doença progride para falência intestinal, a criança precisará de nutrição parenteral, administrada diretamente na corrente sanguínea através de uma veia. Em condições onde a dependência da nutrição parenteral passa a ser de longo prazo, a nutrição parenteral domiciliar passa a ser considerada como uma opção, melhorando a qualidade de vida da criança e de sua família. Pacientes acompanhados por uma equipe especializada em reabilitação intestinal apresentam menores índices de complicações relacionadas a doença de base e ao uso prolongado da nutrição parenteral, com melhor qualidade de vida. A cirurgia para formar uma ostomia para aliviar a pressão no trato gastrointestinal pode ser necessária, como forma de alívio de sintomas. Dependendo do grau de comprometimento intestinal, da qualidade de vida e da presença de complicações relacionadas ao uso da nutrição parenteral, o transplante de intestino ou multivisceral poderá ser indicado.
A reabilitação intestinal e o manejo eficaz da falência intestinal são cruciais para crianças com pseudo-obstrução intestinal. Diagnóstico precoce, tratamentos adequados e uma abordagem multidisciplinar são essenciais para melhorar a qualidade de vida dessas crianças.
Jackeline Brufato
Dra. Karina Roda Vincenzi
Gastroenterologista pediátrica