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Linfangiectasia intestinal: conheça esta condição rara

A linfangiectasia intestinal é uma condição rara e complexa que afeta o sistema linfático, levando à dilatação dos vasos linfáticos, especialmente no intestino. Esta condição pode resultar em uma série de problemas gastrointestinais e nutricionais, muitas vezes demandando uma abordagem multidisciplinar para manejo e reabilitação.

Neste artigo, vamos explorar os principais aspectos da linfangiectasia, com foco especial na sua manifestação intestinal e na importância de uma equipe especializada para promover a reabilitação intestinal.

 

O que é a Linfangiectasia?

A linfangiectasia é uma condição em que há dilatação anormal dos vasos linfáticos, que são responsáveis pelo transporte de linfa – um líquido que contém proteínas, gorduras e células imunológicas.

Existem diferentes classificações e tipos de linfangiectasia, que podem ser divididas, principalmente, em duas categorias: linfangiectasia primária e linfangiectasia secundária.

  1. Linfangiectasia primária: Geralmente, é uma condição genética ou congênita, na qual o sistema linfático apresenta anomalias desde o nascimento. Dentro dessa classificação, existe a CCLA (Central Conducting Lymphatic Anomaly), que inclui um grupo de anomalias congênitas do sistema linfático. Essas anomalias podem afetar não apenas o intestino, mas também os pulmões e outros órgãos
  2. Linfangiectasia secundária: Ocorre quando há um bloqueio ou dano ao sistema linfático devido a outros fatores, como inflamações crônicas, cirurgias, traumas ou doenças infecciosas. Neste caso, o problema é adquirido e pode ser controlado ao tratar a causa subjacente.

 

Linfangiectasia Intestinal: Sintomas e Diagnóstico

A linfangiectasia intestinal é uma forma específica da doença em que a dilatação dos vasos linfáticos ocorre no intestino delgado, principalmente nas vilosidades intestinais. Essa alteração interfere na absorção de nutrientes, especialmente proteínas e gorduras, levando a um quadro de enteropatia perdedora de proteínas.

Os sintomas mais comuns incluem:

  • Diarreia crônica: Pode estar presente devido à má absorção de nutrientes e perda excessiva de proteínas.
  • Edema: Ocorre devido à perda de proteínas e ao acúmulo de líquido no tecido subcutâneo.
  • Ascite e derrame pleural: Em casos mais graves, pode haver acúmulo de líquido no abdômen e no espaço pleural.

O diagnóstico da linfangiectasia intestinal pode ser desafiador, pois os sintomas são frequentemente inespecíficos e podem mimetizar outras patologias do trato gastrointestinal.

A confirmação do diagnóstico geralmente exige uma abordagem abrangente. A combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem leva a maior possibilidade do diagnóstico correto. Entre estes exames, podemos citar:

  • Exames Laboratoriais:
    • Albumina e Proteínas Séricas: Pacientes com linfangiectasia intestinal frequentemente apresentam níveis reduzidos de albumina e outras proteínas no sangue, devido à perda proteica no trato gastrointestinal.
    • Eletrólitos e Linfócitos: A contagem de linfócitos também pode estar baixa, pois há perda desses componentes pelo sistema linfático comprometido.
    • Teste de Fezes: A análise das fezes para detectar gordura e proteínas não absorvidas ajuda a identificar a má absorção, característica da condição. Um dos exames mais utilizados é a dosagem de alfa-1-antitripsina.
  • Endoscopia Digestiva Alta com Biópsia:
    • Com a visualização direta dos órgãos do trato digestivo através de uma câmera, é possível identificar sinais diretos de linfangiectasia, principalmente no duodeno. Entre estes sinais, podemos citar a presença de vilosidades esbranquiçadas no duodeno que sugerem linfa acumulada, pontos brancos elevados na mucosa intestinal, edema de mucosas e também a fragilidade de mucosa, que é bastante friável, contribuindo para a perda de proteínas e nutrientes.
    • Na biópsia intestinal é possível identificar a presença de vasos linfáticos dilatados nas vilosidades intestinais, sendo que a presença desta alteração é essencial para o diagnóstico de linfangiectasia.
  • Exames de Imagem:
    • Ultrassonografia Abdominal: Embora menos específica, pode mostrar ascite (acúmulo de líquido no abdômen) e fornecer sinais indiretos da condição.
    • Tomografia Computadorizada (TC): Ajuda a visualizar alterações no intestino e outras áreas afetadas pelo acúmulo linfático, especialmente em casos avançados.
    • Linfangiografia: Esse exame mais complexo envolve a injeção de contraste nos vasos linfáticos para estudar sua anatomia e detectar qualquer bloqueio ou dilatação. É mais utilizado quando há suspeita de complicações ou necessidade de planejamento cirúrgico.
    • Linfoangioressonância magnética: É uma técnica de imagem avançada e não invasiva que permite visualizar em detalhes o sistema linfático, incluindo os vasos linfáticos e os linfonodos. Ela é especialmente útil para identificar e caracterizar anomalias, como a Central Conducting Lymphatic Anomaly (CCLA) e outras condições linfáticas.

 

Tratamento e Reabilitação Intestinal

O tratamento da linfangiectasia intestinal é voltado principalmente para o controle dos sintomas, a redução das perdas proteicas e a melhora da absorção de nutrientes. As estratégias variam dependendo da gravidade do caso e podem incluir as seguintes abordagens:

  • Modificações Dietéticas:
    • Dieta Rica em Triglicerídeos de Cadeia Média (TCM): Esses tipos de gordura são absorvidos diretamente pela corrente sanguínea, sem a necessidade de passar pelos vasos linfáticos dilatados, reduzindo assim o risco de perda proteica. Alimentos como óleo de coco e fórmulas específicas para TCM são comumente recomendados.
    • Restrição de Gorduras de Cadeia Longa (TCL): As gorduras de cadeia longa exigem transporte pelo sistema linfático para serem absorvidas, o que pode agravar a dilatação linfática. Assim, elas são restringidas na dieta.
    • Suplementação Nutricional: Em casos de desnutrição ou deficiência de proteínas, a suplementação proteica e o uso de micronutrientes específicos podem ser necessários para atender às necessidades nutricionais do paciente.
  • Medicamentos:
    • Diuréticos: Podem ser indicados para aliviar o edema, especialmente em casos onde há acúmulo significativo de líquidos nos tecidos ou na cavidade abdominal (ascite).
    • Octreotida: Esse análogo da somatostatina tem mostrado benefícios em alguns pacientes, ajudando a reduzir a perda de proteínas e melhorar a absorção de nutrientes. No entanto, seu uso precisa ser monitorado cuidadosamente.
    • Medicamentos imunossupressores: O uso destas medicações tem o objetivo de reduzir a dilatação dos vasos linfáticos por meio de ação antiangiogênica e imunossupressora. O sirolimo é um dos mais utilizados e seu uso está associado à redução da inflamação e o vazamento linfático, ajudando a controlar sintomas como o edema e a hipoalbuminemia. Embora o sirolimo seja mais comum, outros imunossupressores, como micofenolato de mofetila, também foram testados em casos refratários.
  • Terapias de Reabilitação Intestinal:
    • Em casos graves de linfangiectasia intestinal, que progridem para uma condição conhecida como falência intestinal, o paciente pode necessitar de suporte nutricional avançado. A reabilitação intestinal, neste contexto, é um processo que visa restaurar ou otimizar a função intestinal residual.
    • Nutrição Parenteral (NP): Pacientes com falência intestinal podem precisar de NP, onde nutrientes são administrados diretamente na corrente sanguínea para garantir a ingestão calórica e de nutrientes adequada.
    • Suporte Nutricional Enteral: Em alguns casos, fórmulas nutricionais especiais, administradas via sonda, podem ser utilizadas para melhorar a absorção sem sobrecarregar o sistema linfático.
  • Intervenções Cirúrgicas:
    • A cirurgia é considerada em casos raros, onde há uma obstrução grave dos vasos linfáticos ou quando outras abordagens não produzem o efeito esperado. As opções cirúrgicas podem incluir a ressecção da área intestinal afetada ou a ligadura de vasos linfáticos específicos.

 

Importância do Acompanhamento Multidisciplinar

Devido à complexidade da linfangiectasia intestinal e ao impacto que ela pode ter na nutrição e qualidade de vida dos pacientes, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar é essencial.

Profissionais como gastroenterologistas, nutricionistas especializados em reabilitação intestinal, e outros especialistas em falência intestinal podem trabalhar em conjunto para desenvolver um plano personalizado de tratamento e garantir o bem-estar do paciente.

 

Conclusão

A linfangiectasia intestinal é uma condição rara que exige uma abordagem personalizada e um time de especialistas em reabilitação intestinal. No caso de falência intestinal, o suporte multidisciplinar e uma reabilitação intestinal bem conduzida podem fazer toda a diferença na qualidade de vida e na saúde do paciente.

Para saber mais sobre a linfangiectasia intestinal e outras condições relacionadas à reabilitação intestinal, visite nosso site e confira nossos conteúdos atualizados sobre falência e suporte intestinal, onde nosso objetivo é fornecer informações e suporte para pacientes e familiares.

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Beatriz Farah
Nutricionista especialista
  • Curso de capacitação em nutrição em ambulatório – Instituto da Criança, Hospital das Clínicas (FMUSP)
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Estela Pavanelli
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Jackeline Brufato

Enfermeira especialista
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Catherina Gameiro
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Catiana Mitica Gritti
Enfermeira coordenadora do IARI
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  • Responsável pela coordenação do programa de nutrição parenteral domiciliar e cuidados ambulatoriais do CRITx
  • Especialização em Gestão da Qualidade pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein
  • Mestrado em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, com estudo sobre a influência de aspectos sócio-econômicos no desfecho do tratamento com nutrição parenteral domiciliar
  • Capacitação em laserterapia no tratamento de lesões
  • Estágio observacional no Penn Transplant Institute – Hospital of The University of Pennsylvania

Dra. Karina Roda Vincenzi

Cirurgiã gastrointestinal e Transplante
  • Fellowship em Transplante de Fígado, Transplante intervivos e Cirurgia Hepatobiliar – Hospital Sírio-Libanês e AC Camargo Cancer Center
  • Doutorado e Mestrado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
  • Fellowship em Transplante de Fígado Intervivos e Cirurgia de Fígado e Vias Biliares no Asan Medical Center – Seul, Coréia do Sul
  • Visiting Surgeon no Departamento de Cirurgia de Fígado, Vias Biliares e Pâncreas do Hospital Beaujon – Paris, França
  • Pós-graduanda em Nutrologia pela ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia
  • CRM-SP 133.977
Dra. Carine Dias

Gastroenterologista pediátrica

  • Residência de Gastroenterologia pediátrica pela Unesp
  • Título de Especialista em Gastropediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria
  • Mestre em Ciências na área de Pesquisa Clínica pela Unesp
  • Fellowship em reabilitação intestinal pelo Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Sírio-Libanês
  • Atuação no Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Sírio-Libanês desde 2022
  • CRM-SP 159.352
Dra. Camila Mascarenhas
Gastroenterologista pediátrica
  • Residência de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrologia Pediátrica pela Unesp
  • Fellowship em reabilitação intestinal pelo Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Sirio-Libanês
  • Atuação no Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Sirio-Libanês desde 2022
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Dr. João Seda
Cirurgião pediátrico e Transplante
  • Responsável Técnico pelo Transplante de Intestino e Multivisceral do Hospital Sírio-Libanês
  • Atuação em Transplante de Fígado pediátrico no Hospital Sírio-Libanês desde 2006
  • Clinical Transplant Fellowship pela University of Pittsburgh Medical Center, entre 2001 e 2006
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Dra. Natalia Person
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  • Especialista em Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrologia pediátrica pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
  • Título de Especialista em Gastropediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria
  • Mestrado em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, com estudo sobre infecção de corrente sanguínea relacionada ao cateter venoso central e estratégias para salvamento do dispositivo, em crianças com falência intestinal
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Gastroenterologista pediátrica
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  • Residência Médica em Gastroenterologia e Hepatologia pediátrica pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre
  • Título de Especialista em Gastropediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria
  • Mestrado em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, com estudo sobre a incidência e o manejo da doença hepática associada a falência intestinal em crianças
  • Pós-graduanda em Nutrologia pediátrica pela ABRAN
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Dr. Rodrigo Vincenzi
Fundador e coordenador do IARI
  • Coordenador do Núcleo de Falência Intestinal do Hospital Sírio-Libanês e do Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante
  • Cirurgião com atuação em cirurgia gastrointestinal, hepatobiliar e transplante de órgãos; fellowship em transplante de fígado pelo Hospital Sírio-Libanês
  • Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Especialização em Gestão em Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
  • Visiting Surgeon no Asan Medical Center, Seul, Coréia do Sul – Departamento de Transplante de Fígado Intervivos e Cirurgia Hepatobiliar
  • Visiting Surgeon no Hospital Beaujon, Paris, França – Departamento de Cirurgia de Fígado, Vias Biliares e Pâncreas
  • CRM-SP 104.586